Nunca é tarde para a realização de um sonho, lema que tem incentivado várias mulheres acima dos 50 anos a retomar os estudos por meio do Proeja (Programa de Educação de Jovens e Adultos), da Uniso, que implantou, no segundo semestre de 2016, sua mais nova sala de aula no bairro de Brigadeiro Tobias. As aulas acontecem de segunda a quarta-feira, das 8h às 11h, no Círculo Operário.
Parte das alunas teve que interromper a formação escolar precocemente. Algumas delas nem iniciaram, devido à criação autoritária dos pais e também ao preconceito. Outras, ainda, porque estavam totalmente envolvidas com os serviços domésticos ou com o trabalho fora de casa, que garantia o sustento familiar.
Casaram-se cedo e não tiveram mais tempo de estudar. Esse é o caso da Nair Cirino de Jesus, de 68 anos. Ela já sabia ler e escrever, porém, tinha muitas dificuldades em Matemática e leitura. Parou de estudar, proibida pelo pai. Não havia transporte e o caminho até a escola, que ficava longe de sua casa, era perigoso. Para retornar aos estudos teve o incentivo das filhas e conta que não se deixa abalar pelo preconceito manifestado por várias pessoas sobre a iniciativa de voltar a estudar em sua idade. “Gosto de todas as matérias, mas tenho mais prática em Português, adoro ler e, principalmente, escrever”, diz, destacando que também aprecia o convívio proporcionado pelas aulas.
Maria das Graças Silva Rodrigues, de 66 anos, outra aluna, nunca completou um ano na escola. O pai também não a deixou estudar. Depois de casada, sempre que retomava os estudos, era obrigada a interrompê-los para cuidar da casa e dos filhos, mas, agora, afirma que vai se dedicar com afinco. De Português ela sabia um pouco e em Matemática tinha muita dificuldade. Além de aluna, também é professora de costura nas oficinas do Proeja.
Caso semelhante é o de Maria Regina Romão, de 61 anos, que não teve a oportunidade de estudar quando criança e já adulta dedicava todo tempo aos filhos e ao trabalho. Iniciou os estudos cinco vezes e nunca conseguiu concluir. “Eu me sinto muito bem aprendendo, principalmente Matemática, área em que tinha muita dificuldade, além de fazer novas amizades aqui”. Segundo ela, a professora é muito atenciosa e pretende continuar estudando até aprender a fazer contas de divisão.
Já Érica Leite Jonas, 23 anos, começou a frequentar a classe porque tem dificuldades em algumas matérias, e a mãe, Marinês Jonas, passou a acompanhá-la nos estudos. Aos 56 anos, tendo concluído a 2ª série do Ensino Fundamental, Marinês decidiu participar também, já que precisa levar a filha, que é cadeirante, para as aulas.
Tássia Carvalho é aluna do curso de Pedagogia da Uniso e professora do Proeja. Para ela, é gratificante atuar com esse público. “O processo de trabalhar com adultos é totalmente diferente, desde os assuntos a serem abordados nas aulas até o tempo e modo de explicar a matéria”. Diz que está “apaixonada” pelo grupo e que pretende seguir nessa área educacional.
Segundo a professora, há pouco tempo para ensinar e as alunas também enfrentam o cansaço, devido ao trabalho em casa, por isso, afirma que é preciso incentivá-las bastante. “A participação das alunas é bem interessante, principalmente nas aulas de história. Sempre se lembram e relacionam algo que viveram a determinado momento histórico. Nas aulas de interpretação de texto, a concentração, o foco e a percepção tiveram excelente melhora”, conta.
O Proeja
O Programa de Educação de Jovens e Adultos é coordenado pela professora Beatriz Magagna, junto a quatro supervisores que atuam com um determinado número de cidades. “Acompanhamos o processo de aprendizagem dos alunos, considerando que cada experiência é única”, diz.
Como parte do projeto, a Universidade tem parceria com o Hospital Oftalmológico, que todos os anos disponibiliza uma unidade móvel na Cidade Universitária para uma avaliação gratuita da saúde dos olhos dos estudantes. Ao final do curso, é realizada uma solenidade de formatura.
Em novembro de 2016, foi realizada a 25ª solenidade de formatura do Programa, com 125 alunos concluintes da 1ª fase (Alfabetização ao 5º ano) e da 2ª fase (6º ao 9º ano), do Ensino Fundamental, vindos das cidades de Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Itapetininga, Mairinque, Pilar do Sul, Porto Feliz e São Roque.
Desde 1998, foram atendidos 26.026 alunos, com 4.989 formandos, em diversas cidades da Região. O Proeja oferece capacitação inicial e continuada de professores que atuam na educação de jovens e adultos e é responsável pela elaboração e distribuição de material didático, voltados ao Ensino Fundamental, e pelo acompanhamento pedagógico das atividades. O Programa recebe alunos a partir dos 15 anos.
Quem quiser continuar os estudos é encaminhado ao Ceeja (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos) ou para a prova do Enceeja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) com parceria da Secretaria do Estado de São Paulo.
Texto e fotos de Luis Gustavo Peres (AgênciaJor/Uniso) com edição da Assecoms